
De momento, qual a melhor forma de ajudar? Seria, pois, bem-vindo um reforço dos apoios nesta fase de transição... em dezembro cessa o contrato de comodato e o apoio financeiro da União Europeia. A subsistência desta família está ameaçada. Neste momento, qualquer apoio no domínio habitacional seria uma ajuda preciosa!
Lisboa, 08.05.2017. Passaram já 17 meses desde que a família Assaf, natural de Alepo, constituída por três pessoas – Mahmoud, o pai, Seham, a mãe e Ahmad, o filho -, chegou a Portugal, em dezembro de 2016, provinda da Grécia.
Foi acolhida pela Associação Schoenstatt Lisboa, em parceria com a Plataforma de Apoio aos Refugiados. Em dezembro próximo termina a concessão do apoio financeiro disponibilizado pela União Europeia através do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, o qual visa apoiar a boa integração da família durante o período de dois anos, provendo às suas necessidades fundamentais.
Em jeito de balanço, conversámos com os membros da Comissão de acolhimento da família Assaf.
Como tem decorrido o processo de integração desta família? Qual o ponto atual da situação?
A família abandonou a sua cidade natal, Alepo, na Síria, onde residia, há cerca de 6 anos, quando a guerra eclodiu. Viveu algum tempo no Líbano, onde pai e filho trabalharam, na Turquia e por fim, na Grécia, num campo de refugiados. Ao longo desses anos acumulou experiências muito dolorosas e chegou ao nosso país cheia de sonhos e esperanças, ávida de um presente promissor, de um tempo sereno e com estabilidade a nível económico e social. Com muita vontade de recomeçar. Tem sido um novo tempo, em que a família tem feito um grande esforço para se dar a conhecer, procurando compreender a nossa cultura, o que, para a civilização árabe, representa um enorme desafio. Tem-se manifestado sempre disponível para dialogar, mesmo nos momentos de confusão e desconcerto.
A família está a fazer o seu percurso, gozando hoje de maior domínio da língua e cultura portuguesa. O pai, Mahmoud, terminou um curso de formação na perspectiva da angariação de emprego, promovido pela Plataforma de Apoio aos Refugiados, e começou a trabalhar no Pingo Doce de Alcântara no passado dia 5 de março. Nos últimos meses progrediu significativamente na aprendizagem da Língua Portuguesa, com o apoio de uma professora árabe.
A mãe, Seham já frequentou diversos cursos de aprendizagem da língua portuguesa e frequenta, de momento, um curso da PAR, no qual além do reforço do ensino do Português, são ponderadas algumas possibilidades de inserção no mercado de trabalho.
O filho Ahmad, de 20 anos, fez notórios progressos no conhecimento da língua, o que lhe tem permitido acompanhar as aulas do curso de formação para adultos - curso EFA - que frequenta no Liceu Camões, recuperando o atraso inicial. Prevê-se que termine este curso em julho próximo. No próximo ano lectivo, tenciona iniciar um curso de formação profissional com a duração de três anos que lhe concederá equivalência ao 12.º ano, e o habilitará a trabalhar numa área técnica.
Apesar das dificuldades inerentes ao processo de adaptação, esta família criou laços com o nosso país, e ao invés de muitas outras famílias de refugiados sírios que aqui chegaram e partiram em direção à Alemanha e outros países europeus, revela a intenção de permanecer em Portugal, esforçando-se por se integrar na nossa sociedade.
Nesta caminhada surgiram alguns obstáculos...quer concretizar?
Sim, não tem sido um caminho linear. Também para nós é uma experiência nova. Nunca tínhamos travado conhecimento com famílias sírias. Requer muita paciência, perseverança e humildade – para os que acolhem e os que são acolhidos.
Não tem sido fácil para os membros desta família aceitar as limitações que a falta de conhecimento dos hábitos e da língua portuguesa, a idade – o pai tem 58 anos, a mãe 49 anos – e as circunstâncias suscitam à sua plena integração. Como referimos, alimentaram muitas expetativas. Sentem que perderam muito tempo, no percurso entre Alepo e Portugal, tempo esse que querem recuperar a todo o custo. Como se tivessem direito a um prémio, após anos de desconcerto. O que aliás é perfeitamente compreensível.
O pai, quando chegou a Portugal, pretendia começar a trabalhar logo de imediato, o que não foi possível. Sendo um negociante, aspira a trabalhar por conta própria, o que também se afigura difícil de concretizar.
À mãe foi diagnosticada uma lombalgia que lhe causa muito desconforto, a impede de carregar pesos e executar alguns trabalhos domésticos. Embora queira trabalhar, está condicionada quanto às tarefas que pode desempenhar.
Foi também difícil, no decurso do primeiro ano, a integração escolar do filho. Completou o 8.º ano de escolaridade na Síria e esteve cinco anos sem estudar, chegou a Portugal com 19 anos e sem falar Português. Ahmad é um aluno aplicado e comunicativo, o que lhe valeu alguns apoios por parte dos professores e lhe permitiu recuperar o atraso inicial na aprendizagem.
O processo de aprendizagem da língua e de acomodação à sociedade ocidental é um processo difícil e longo e este é seguramente o maior entrave. Pouco a pouco vão aceitando as suas limitações e a sua condição de refugiados.
Na Síria gozavam de prosperidade económica pelo que lhes é particularmente penosa a sua atual condição económica.
Contudo, têm revelado flexibilidade na adaptação à cultura portuguesa, mantendo relações cordiais com todos.
Outra angústia são os filhos que estão longe, em circunstâncias adversas. Uma das filhas e sua família foi acolhida em Portugal pela Fundação Champagnat e reside no concelho de Cascais. Porém deixaram duas filhas, genros e netos a viver em Alepo, que conhecem ainda os reveses da guerra. Um dos filhos partiu para a Alemanha quando abandonaram Alepo, quando a guerra eclodiu, com a idade de 17 anos e ali permanece. Receberam a visita deste filho em Agosto do ano passado mas não veem as duas filhas e suas famílias, que estão impedidos de sair da Síria, há largos anos.
E quais as apreensões desta família, no que se refere à conquista de autonomia, agora que se avizinha o fim do programa de apoio?
A família não tem autonomia financeira. Apenas o pai está a trabalhar.
Residem de momento na Estrela, em Lisboa, numa habitação cedida pela freguesia, ao abrigo de um contrato de comodato que expira em 19 de dezembro de 2018. Não se mostra viável a celebração de um contrato de arrendamento ou outro que viabilize a permanência do agregado familiar na fração que ora ocupam. Na verdade, a Junta de Freguesia inteirou-nos de que tem outros planos para o imóvel.
Como tal, e atendendo aos exorbitantes preços de mercado do arrendamento habitacional praticados na cidade de Lisboa e arredores, procurámos averiguar da possibilidade de esta família se candidatar a algum programa de habitação social. Concluímos não existir qualquer programa específico, destinado a refugiados, a que se possam submeter.
As famílias de refugiados recém-chegadas a Portugal são famílias especialmente vulneráveis. Contudo, muito dificilmente lhes será atribuída habitação social, ao abrigo dos programas disponíveis. Estes privilegiam as famílias com deficientes, idosos ou crianças e as famílias monoparentais. A particular desprotecção dos refugiados não é valorada pelos regulamentos vigentes no domínio da atribuição de habitação social.
Muito embora o Governo tenha recentemente anunciado o reforço dos programas de acesso à habitação, de acordo com os números oficiais, existem cerca de 26 mil famílias desprovidas de habitação condigna em Portugal. Os resultados do recente inquérito realizado pelo Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana revelam que, em Portugal, persistem situações de grave carência habitacional e que só há habitação social para um quarto das famílias que precisam de viver em melhores condições. Na Área Metropolitana de Lisboa concentram-se 54% das famílias que precisam de ser realojadas ou que vivem em casas indignas e a necessitar de reabilitação. É pois muito improvável que esta família venha a ser contemplada, no curto prazo, com uma habitação social.
Ainda que Ahmad, o filho, esteja disposto a trabalhar em parte time, no decurso do período de formação profissional, os rendimentos do agregado familiar não permitirão custear o preço de de uma habitação.
Assim, os pais estão especialmente apreensivos quanto ao seu futuro próximo. A sua principal preocupação é a carência habitacional.
Seria, pois, bem vindo um reforço dos apoios nesta fase de transição...qual a melhor forma de ajudar?
Como referimos, em dezembro cessa o contrato de comodato e o apoio financeiro da União Europeia. A subsistência desta família está ameaçada. Qualquer apoio no domínio habitacional seria uma ajuda preciosa!
A solução poderia passar pela disponibilização de uma casa em Lisboa ou nos arredores, gratuitamente ou mediante o pagamento de uma renda simbólica, por um período de 2 ou 3 anos.
Outra hipótese que não excluímos seria o desempenho de funções de vigilância numa instituição ou numa quinta ou propriedade (como porteiro/guarda), com fixação de residência no local. A Seham precisa de trabalhar. Qualquer possibilidade de ocupação profissional é neste momento particularmente bem-vinda.
Quando a família chegou, muitas pessoas manifestaram interesse em ajudar esta família. E foi muito gratificante a forma como se envolveram nos preparativos para a sua instalação. Uma chuva de graças do Céu!
Precisamos que o movimento se envolva, de novo.
Não faz sentido irmos bater a portas de terceiros. Afinal, somos todos responsáveis por esta família!
Deixamos, pois, estes apelos certos de que Com Maria, somos família que Acolhe!
A equipa do “acolher uma família”
acolherumafamilia@gmail.com
Acolher uma família - Projeto do Movimento Apostólico de Schoenstatt