No contacto com os nossos Assessores[1], ‘sentíamo-nos acolhidos, aceites e amados, antes mesmo de sermos exigidos’ (palavras do António Ruivo). No ambiente respirava-se uma alegria, um entusiasmo para com as coisas de Deus, que não era normal.
Tudo isto foi despertando em nós um profundo sentimento filial, através da relação que cada um foi experimentando com os sacerdotes que nos acompanhavam (referência especial para o P.Jaime Fernandez que era, para nós, o rosto do carisma paternal do P. Fundador) e um Lar permanente na casa do ISNSS.
A intensidade com que vivemos esta relação paterno-filial, abriu-nos para a capacidade de nos sentirmos irmãos, mesmo sem nos conhecermos ainda bem. E a partir desta forte experiência humana, Maria foi-nos unindo, e foi-nos ensinando a construir Família.
Conscientes do dom que Deus nos oferecia através desta vivência privilegiada, ser Família foi sendo também para nós uma meta a atingir (Deus escolheu-nos ‘à linha’, cada um chamado pelo seu nome, éramos poucos, todos jovens, entre os 14 e os 20 anos. Fiel a esse chamamento, Deus quis connosco formar uma comunidade de pessoas unidas por vínculos de amor e vida, em torno a um Pai e a uma Mãe,
Aos poucos, Maria foi transformando o nosso coração num coração verdadeiramente filial, capaz de se entregar confiadamente aos planos do amor de Deus[2].
2) A partir de 1965, seguiu-se um tempo de prova, em que vivemos sustentados pelas reservas que tínhamos desta experiência de eleição. O Instituto Nossa Senhora de Schoenstatt foi o nosso ‘suporte’, acolhendo-nos desde a 1ª hora e garantindo a unidade a todos os que chegavam. Mas foi um tempo demasiado prolongado (até 1973), que pôs muitas vezes em risco a nossa própria existência como Família:
- Falta de autorização para trabalhar com o Movimento
- Falta de assistência regular durante anos / Experiência de ‘deserto’
- Tensões na Família, tensões entre os grupos e no interior dos próprios grupos (Consequente risco na linha da Unidade)
De repente tudo parecia ruir. Tínhamos todos que fazer um esforço tremendo para nos aguentarmos como Família, no meio de tantas tensões.
Foi aí que o Pai Fundador surgiu como a nossa âncora, foi ele que nos ‘agarrou’ no momento de uma eventual ruptura, foi ele a nossa Fonte de Unidade.
Simultaneamente, no íntimo dos nossos corações, Maria foi-nos preparando para um SIM provado (Sim à Aliança de cada um e Sim à Família que nasceu dessa Aliança).
Tínhamos uma profunda convicção de que Schoenstatt era força, luz e caminho para a renovação da Igreja.
A morte do Pai Fundador em 1968, consciencializou-nos da sua presença real na Família, como seguro da nossa Unidade e da nossa subsistência. (Cada um de nós ia assumindo tarefas de acordo com as suas capacidades e de acordo com as necessidades.)
Daí a decisão de nos entregarmos de forma comprometida pela Família de Schoenstatt em Portugal. O Pai Fundador conduziu a Família para uma Aliança de Amor da Família com Nossa Senhora (1969). Foi verdadeiramente uma experiência de Cenáculo, em que, na nossa pequenez, lhe fizemos 3 pedidos concretos: licença para trabalhar, um Padre que nos assistisse e o Santuário.
Foi-se buscar a Fátima a 1º pedra para o nosso Santuário, pedra essa que simbolizava todas as batalhas em que Nossa Senhora venceu sobre todos os obstáculos.
Maria tomou a sério a Aliança e os pedidos foram-se concretizando.
Temos consciência de que o principal impulso que levou à construção do Santuário se deve às palavras do P.Alberto Eronti, em Set 1972, quando depois de tantos anos de luta e de fidelidade, ao sentir o nosso cansaço, nos dizia, entre outras coisas:
“Construamos o Santuário! Esta é a nossa meta!(…) Sempre me impressionou a vossa fé, fé em Schoenstatt, fé na missã… E uma fé que vence o tempo é um amor fiel. (…) Vocês são uma Família que possui profundamente o carisma da fidelidad… E todo aquele que chegou algum dia aqui, encontrou-se com uma Família… E por isso, penso que não têm o direito de perder este carisma que vos é próprio. À luz da vossa história, a construção do Santuário é uma exigência, é um último pedido de amor que brota da vossa própria fidelidade, da vossa própria fé, do vosso próprio carisma de família…”
“(…) Necessitamos de juventude, necessitamos de dar uma resposta à Igreja, mas para isso, temos de assegurar o máximo de fecundidade e para nós essa fecundidade reside no Santuário. Por isso, o Santuário não é só uma exigência que se desprende da nossa história, mas é também a única possibilidade de nos responsabilizarmos plenamente face ao futuro…”
“Não podemos esquecer que somos filhos da Aliança e que a Aliança tem exigências, exigências de amor; por isso, o Capital de Graças é a primeira tónica face ao futuro…”
É também importante termos presente que, em Dezembro de 1966, o P.Kentenich dirigiu à Família de Portugal, as seguintes palavras, que são para nós uma referência:
“Vivam da vossa História! É uma História breve mas é uma História rica porque o Amor de Deus e o Amor de Nossa Senhora aí irrompeu com força.”
Em 15 de Setembro de 1974 foi inaugurado o nosso Santuário.
1974
A resposta aos 3 pedidos, confirmou o nosso sentimento de sermos Família do Pai.
Entretanto, a Família foi-se estruturando nos seus diferentes Ramos e o vazio provocado durante anos, pela ausência de Juventude, foi sendo preenchido de uma forma que hoje nos deixa a todos rendidos.
A Juventude que hoje temos é fruto de uma história vivida à sombra do Santuário.
De facto, Ela é a Grande Missionária, Ela faz milagres!!!
Nunca será demais reconhecer, rezando em uníssono:
“Senhora do Magnificat, nós Te louvamos,
porque o Senhor manifestou o poder do Seu braço e dispersou os soberbos de coração…
manifestando em nós a Sua Força, quando já cansados ameaçávamos dispersar
e errantes, caminhávamos à procura de um porto seguro.
Agradecemos-Te, Mãe, (…) pelo nosso Fundador, a quem nos vinculámos tão profundamente que se veio tornar causa e subsistência desta Família, para que reunidos em seu coração paternal, encontrássemos sempre de novo repouso e segurança no coração do Pai.”
(excerto do livro “O Santuário 25 anos de História”, 1974-1999, Paula Roncon).
Em Abril de 2010, no Jubileu dos 50 anos da Fundação de Schoenstatt em Portugal, o P.Jaime Fernandez, que tivémos o privilégio de ter entre nós, depois de afirmar a sua convicção de que por detrás da nossa História em Portugal, Deus tinha deixado a Sua marca, lembrava-nos que um Jubileu é sempre um tempo para olhar para trás, descobrir os sinais de Deus naquilo que aconteceu e tentar perceber o futuro.
Referia-se ele às graças de fundação que temos de ter presentes:
- a consciência de missão (consciência de que Schoenstatt é uma resposta histórica universal, mas também uma resposta aos problemas deste tempo)
- a espiritualidade e cultura da Aliança
- a unidade na diversidade na estrutura de Schoenstatt
Perante uma sociedade que está a surgir sem Deus, Schoenstatt tem de ser resposta, formando homens livres. Se assim não acontecer, não cumpre a sua missão.
Neste ano em que celebramos os 100 anos da 1ª Aliança de Amor e os 40 anos do nosso Santuário, que importância tem isso na resposta que temos para dar ao mundo e à Igreja?
São vários os desafios:
- É a partir do Santuário Cenáculo que queremos ser Família: para além de sermos nós próprios casos pré-claros de Família, queremos projectar-nos como Família para fora, irradiando o espírito comunitário e familiar (daí a importância do Movimento dos Peregrinos, e a valorização dos nossos santuários-lar, porque é neles que se cria família nova, fermento da nova sociedade e da nova Igreja).
- Queremos crescer na consciência do Fundador como Pai, como dom de Deus para nós, o que implica abrirmo-nos a uma relação profunda e filial com o Pai Fundador e a vivermos numa atitude de FPDP (Fé Prática na Divina Providência) como método para colaborar com Deus.
- Pertencemos ao Schoenstatt do 31 de Maio, somos fruto do 31 de Maio, momento especial de graça. Isso significa um compromisso com a missão do 31 de Maio e exige uma atitude de fidelidade criadora na resposta às interpelações da Providência.
- Ser ‘Família do Pai’ implica ser um caso pré-claro do pensar, viver e amar orgânicos e anunciar a Paternidade de Deus.
- Significa sentir-nos chamados à construção permanente da unidade na diversidade, conscientes de que Maria é, para nós, Mãe, Educadora e Rainha da Família do Pai. Ela é o nosso tesouro maior. Temos que oferecer à Igreja e ao mundo a pessoa de Maria e do Pai Fundador.
- O nosso Santuário é Cenáculo na linha do 31 de Maio. Tem vocação para criar uma Nova Ordem Social. Por isso, tem que haver uma projecção séria no campo temporal. Schoenstatt tem que ter posição frente aos problemas sociais actuais e oferecer a sua espiritualidade aos construtores da sociedade de amanhã. Há que estar atento às oportunidades.
“Temos de criar espaços de reflexão partilhada, para além da estrutura, reflectir em comum, questionar, tomar iniciativas. Há que tomar a sério a missão portuguesa como ‘porta da Europa’ para uma corrente de vida e de graças. Daqui surgirão santos e chefes, como nos diz a mensagem de Fátima.” (P.Jaime Fernandez, em Maio 2010).
Em resumo:
Somos todos Fundadores. “Necessitamos de ser santos e de transmitir integralmente as graças da Fundação. Isto implica encontrar caminhos para influir na opinião pública e dar uma resposta à cristianização da Europa.” (idem)
Milú Leitão
(a pedido do Conselho da Pastoral do Santuário)
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[1] Neste tempo, os Padres Jaime Fernandez e António Lobo, juntamente com membros do INSS – inicialmente, Maria Teresa Schneider e Irmgard Ludwig; mais tarde (1970) durante muitos anos, a Lucília e depois a Ana Cristina… até se chegar aos assessores actuais (com algumas ajudas transitórias pelo meio!).
[2] A 18.10.1963 os sacerdotes foram proibidos pela hierarquia da Igreja a permanecerem em Portugal – restava-lhes a possibilidade de visitas por alguns dias.