
Presidente da Presidência Internacional de Schoenstatt.
Querida Família de Schoenstatt,
Celebramos um novo aniversário da partida do Pai-Fundador,
Pe. Kentenich. No próximo ano completar-se-ão 50 anos deste
acontecimento. Por isso, abrimos o “Ano do Padre Kentenich”.
Não se trata, meramente, de uma memória histórica, em que,
com gratidão, reconhecemos que Schoenstatt deve a sua
existência ao Fundador. Trata-se, antes, da própria identidade
de Schoenstatt, da sua razão de ser e do seu futuro.
Um moderno artista africano pintou um quadro no qual duas
pessoas, dois rostos de perfil, se olham nos olhos. Nesta obra está expressa a experiência humana
fundamental: “sou porque tu és”. Parafraseando esta expressão a comunidade de uma das nossas
casas, em Schoenstatt, dirige-se ao Pai e reconhece: Pai, nós somos porque tu és. Sim, somos
Kentenich, somos porque tu és e somos o que tu és.
Dito teológicamente trata-se da participação no carisma do Fundador, no seu espírito
fundacional. Nada menos que, S. João Paulo II, no-lo lembrou enfáticamente: Vocês estão
chamados a participar da graça que o vosso Fundador recebeu e a oferecê-la a toda a Igreja.
Pois, o carisma dos fundadores é uma experiência suscitada pelo Espírito que, é transmitida aos
seus discípulos, para que, estes a vivam, a guardem, a aprofundem e a desenvolvam
constantemente, na comunhão da Igreja e para o bem da Igreja” (20/9/1985)
Trata-se, portanto, de um carisma, de uma graça, de uma “experiência suscitada pelo Espírito”
que, foi dada ao Pe. Kentenich mas, não para ele, para a sua própria salvação e santificação mas,
para os outros, para uma missão. E, além disso, trata-se de uma “vocação” – “vocês foram
chamados”, isto é, mais uma vez, trata-se da graça em participar neste carisma, nesta graça.
Na história de Schoenstatt experimentámos, vitalmente, que o Pai e nós, nos pertencemos
mutuamente que, pertencemos juntos. A Corrente do Pai e as suas múltiplas expressões – Jardim
de Maria, Aliança Filial, Acto de Séquito e várias outras formas de uma Aliança com o Fundador –
são testemunho disso. Por vocação, participamos no seu carisma e na sua missão, somos um com
ele, na sua vida e na sua missão. Deus pensou-nos juntos, desde toda a eternidade. Ele uniu-me e
uniu cada um e cada uma de vós, intima e inseparavelmente, à pessoa e ao destino do Padre
Kentenich. Solidariedade de destinos, solidariedade indissolúvel. Com palavras simples mas,
teológicamente precisas, o Pe. Kentenich expressou-o deste modo: “Estava previsto nos desígnios
de Deus que, vocês e eu, nos pertencêssemos com uma profundidade singular. Nos planos de
Deus nunca devo ter existido sem vós, nem vocês sem mim. Desde a eternidade Deus pensou-nos
numa Aliança de Amor…Deus pensou-o assim, nunca me viu sem vós, nem a vocês sem mim, Ele
não quer que eu cumpra a minha missão sem vós – tal como, tão pouco, viu Maria separada de
Jesus – Ele pensou-vos, desde toda a eternidade, como meus colaboradores permanentes no
cumprimento da minha missão…” (20/8/1947)
Gostaria de sublinhar que o nosso vínculo com o Pai-Fundador, não é, em primeiro lugar,
sentimental ou afectivo mas, é principalmente, um vínculo de fé, que tem as suas raízes na fé de
que, pela graça de Deus, somos chamados a participar do carisma, do espírito de Fundador, do Pe.
Kentenich.
Ouvimos na Iª Leitura uma passagem linda do Antigo Testamento. O povo de Israel é muito
grande. Moisés não o pode conduzir sózinho. O sogro aconselha-o. Moisés pede a Deus: é demais
para mim, não posso levar sózinho esta carga.
Nm 11, 16-17, 24-25: “O Senhor disse a Moisés: «Reúne para mim setenta homens dos anciãos de
Israel, que saibas serem anciãos do povo e terem autoridade sobre ele. Levá-los-ás à tenda da
reunião e aí os farás esperar contigo. Então descerei ali, falarei contigo e tomarei do espírito que
está sobre ti para o pôr sobre eles; partilharão contigo o peso do povo e não terás de o suportar tu
sózinho…Moisés saiu e disse ao povo as palavras do Senhor; juntou setenta homens dos anciãos
do povo e pô-los à volta da tenda. O Senhor desceu na nuvem e falou-lhe; tomando do espírito que
estava sobre ele, deu-o aos setenta anciãos. Quando o espírito repousou sobre eles,
profetizaram”.
Talvez seja este o dom deste Ano do Padre Kentenich que, Deus pegue num pouco do espírito que
pôs no coração do Padre Kentenich e no-lo transmita. Por isso, pedimos na oração especial deste
ano: “Dá-nos do seu fogo e do seu espirito de Fundador!…Que o seu carisma viva em nós!”.
Ou, como o Profeta Eliseu que teve que implorar e insistir para receber “duas partes (dois terços)
do espírito” do seu mestre, o Profeta Elias. 2 Rs 2, 9-10: “Tendo passado, Elias disse a Eliseu:
«Pede o que quiseres, antes que eu seja separado de ti. Que posso fazer por ti?» Eliseu
respondeu: «Seja-me concedida uma porção dupla do teu espírito.» Elias replicou: «Pedes uma
coisa difícil. No entanto, se me vires quando estiver a ser arrebatado de junto de ti, terás aquilo
que pedes; mas, se não me vires, não o terás.»
Preferi pegar na outra Iª Leitura pois, mostra outro aspecto fundamental da nossa participação no
carisma: não se trata do privilégio exclusivo de uns poucos especialistas em Padre Kentenich ou
de alguns eruditos doutores. Todos participamos do seu carisma, cada uma e cada um de nós,
cada grupo e cada comunidade. Kentenich é mais que todos nós e supera-nos, ninguém o esgota.
Somente, todos juntos podemos e devemos tornar presente a totalidade do seu rosto, toda a sua
figura em plenitude. Cada uma e cada um, cada grupo, cada curso, cada Ramo, cada Comunidade,
representa um raio do seu carisma, somos como as pedrinhas de um mosaico que, só juntas,
mostram o todo. O grande desafio é, que nos abramos uns aos outros que permutemos vida, que
trabalhemos juntos, que vivamos solidariedade efectiva, Cultura de Aliança. O mosaico é como
um difícil e exigente puzzle que temos que montar. Só assim, representamos, integralmente, o
Padre Kentenich, só assim somos quem somos e o que somos.
Trata-se, portanto, de um carisma, uma graça para os outros, para uma missão. Por isso mesmo,
não podemos guardar este dom para nós próprios. Carisma é dom e tarefa. Em vista disso, o Papa
Francisco dirigiu aos Padres de Schoenstatt as seguintes palavras que podem servir de orientação
e quiçá de advertência a toda a Família neste ano. “Preocupa-vos manter vivo o carisma
fundacional e a capacidade de o saber transmitir aos mais jovens. A mim também me
preocupa, que mantenham o carisma e o transmitam, de tal modo que, continue inspirando e
sustentando as vossas vidas e a vossa missão”. Mais importantes são as palavras seguintes, em
que, fala do dinamismo vivo de um carisma que se actualiza em contacto com a realidade e, por
sua vez, a transforma: “Vocês sabem que um carisma não é uma peça de museu, que permanece
intacta numa vitrina, para ser contemplada e nada mais. A fidelidade, o conservar puro o carisma,
não significa, de modo nenhum, fechá-lo numa garrafa selada, como se fosse água destilada, para
que, não se contamine com o exterior. Não, o carisma não se conserva tendo-o guardado; há que
abri-lo e deixar que saia, para que, entre em contacto com a realidade, com as pessoas, com as
suas inquietações e os seus problemas. E, assim, nesse encontro fecundo com a realidade, o
carisma cresce, renova-se e, também, a realidade se transforma, se transfigura pela força
espiritual que esse carisma contém em si.” (3/9/2015)
O carisma do Pai-Fundador é a nossa missão e a nossa contribuição para a Igreja e para a
Sociedade, este carisma quer transformar a realidade e inspirar uma nova Cultura de Aliança. Este
é o fruto que devemos dar e, que só podemos dar se “permanecemos nele” – como as vides
unidas à videira- “Permanecei em mim, que Eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar
fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não
permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse
dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer” (cf. Jo 15)
Querida Família de Schoenstatt, todos desejamos que o processo de beatificação do Padre
Kentenich avance e que um dia seja canonizado. Também, esse é o nosso pedido neste Ano do
Padre Kentenich. Não obstante, penso que deveríamos pedir, de coração, que, sobretudo, cresça
a aspiração à santidade na nossa Família, em cada um e em cada Comunidade. Lembremos a
condição do 20 de Janeiro: se tomarem a sério a Inscriptio, se tomarem a sério a aspiração à
santidade, então, ficarei livre. Isto, nos dirá, hoje, o Pai: só então, será canonizado! S. João Paulo II
já nos desafiou: “Canonizem-no vocês!”. Nesse sentido, também, no funeral do Padre Kentenich,
o Bispo Tenhumberg exortou a nossa Família com as palavras de S. Paulo: “vocês são o meu
cartão de apresentação!”
“Pelos frutos se conhece a árvore!”. A antiga lei do Evangelho, hoje, tem mais valor que nunca:
pelos frutos se conhece a árvore, pela santidade dos seus filhos e seguidores se conhece a
santidade do Pai-Fundador, na vida santa da Família e nas obras apostólicas fecundas se
manifestará a santidade do nosso Pai. Outros filhos de Schoenstatt já estão a abrir o caminho ao
Padre Kentenich em Roma, em primeiro lugar, o Beato Karl Leisner, talvez, em breve, também,
Franz Reinisch, o decreto de virtudes da Irmã M. Emilie já está pronto, a Positio de José Engling
avança – no próximo ano completar-se-ão 100 anos da sua morte – a de Mario Hiriart foi
apresentada e, em breve, sê-lo-á a de João Pozzobon, algum dia seguir-se-á o Pe. Hernán
Alessandri e, se Deus quiser, muitos mais. Assim, se tornam realidade as palavras da Acta de
Fundação, que a “capelinha” se converta em berço de santidade, berço de santos canonizáveis e
canonizados. Este é o meu desejo e o meu pedido, neste dia, para todos nós. “Fui Eu que vos
escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto, e fruto que permaneça.”
Pe. Juan Pablo Cattogio
15 de Setembro de 2017
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