
É importante meditar não só o “criar os laços no trabalho”, mas também “criar laços com o próprio trabalho”
Começando por este último, é importante reconhecer que o trabalho é fonte de felicidade. A sociedade e cada um de nós prospera e sente-se mais realizado quando tem algo para construir. Deus desde o Génesis já o tinha previsto : “Tomou pois, o Senhor Deus o Homem e o colocou no Jardim do Éden para que o cultivasse, o conservasse em ordem (Gn).”
Mas o grande mandamento do trabalho dado por Deus diz-nos “Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra. Submetei-a e dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se movem na terra.” O Pe. Kentenich dizia que nenhum ministro do trabalho saberia traçar um plano mais vasto e tão perfeito. O mundo está inacabado, em estado de caminho, e Deus quer que nós colaboremos nesta criação. Poder-se-ia aplicar ao trabalho aquela imagem em que uma criança se aproxima de um pescador que puxava a rede com enorme força. Agarrou então a criança a corda com as suas pequenas mãos e começou a puxar com evidente falta de habilidade. Aquele pescador deve ter sentido o coração estremecer, mas ainda assim permitiu que aquela criança colaborasse. Não o afastou, apesar de ele ser mais propicio a estorvar do que ajudar. Ao mesmo tempo que nos convida a colaborar com Ele, sabe que a nossa natureza é frágil.
O criar laços no trabalho é uma vertente essencial não só para a vida profissional, mas para a nossa vida como um todo. O trabalho é algo que nos irá ocupar 40% da nossa vida e ninguém está sozinho no seu trabalho. Desde o agricultor que necessita de comprar as suas ferramentas e vender os seus produtos. O pintor que adquire as suas telas e expõe a sua obra numa galeria. Um escritor que publica junto da sua editora. São inúmeras as pessoas com quem nos cruzamos ao longo de toda uma vida de trabalho. Mas cruzemos as vezes necessárias até criar um laço forte, estável e seguro, deixando um rasto de afeto, empatia e respeito por todos.
O professor Clayton Christensen faleceu recentemente e deixou-nos um artigo publicado na Universidade de Harvard intitulado “How to Measure your life?”. No final do seu artigo o professor conclui: “A métrica pela qual Deus irá avaliar a minha vida não será a riqueza, mas cada pessoa cuja vida eu tenha tocado. Não te preocupes com o nível de notoriedade individual que atingiste; preocupa-te com as pessoas que ajudaste a tornarem-se melhores”
José Maria Sacadura
Profissionais de Schoenstatt (Lisboa)