
Inicia-se este mês no novo 18 uma rubrica sobre vidas de Santos. Começamos por partilhar com todos, em primeiro lugar, os “nossos” Santos, isto é, os Santos Portugueses. E como estamos em Janeiro, arrancamos com o Beato Gonçalo de Amarante, conhecido popularmente por São Gonçalo de Amarante. Nasceu no início do sec. XIII e a Igreja celebra-o na data da sua morte, a 10 de Janeiro.
São Gonçalo foi peregrino, um homem despojado e contemplativo. Ordenado sacerdote muito cedo, partiu para Roma e depois para a Terra Santa. De regresso a Portugal, prosseguiu um caminho de busca interior e veio a ingressar na Ordem Dominicana. Dedicou-se aos pobres e à pregação. Terminou os seus dias como eremita. É conhecido especialmente no norte de Portugal pelos muitos milagres que lhe são atribuídos.
Tanto quanto se sabe era muito simples e bom. Quem o diz é o Padre António Vieira, num dos seus sermões dedicado precisamente a S. Gonçalo, que se quiserem poderão consultar em: www.portal.ecclesia.pt
Destaco dois pequenas episódios da sua vida:
Era hábito na época em que São Gonçalo nasceu baptizar as crianças com 8 dias. Eram levadas por uma ama que lhes dava peito logo depois da cerimónia do Baptismo, porque a água os fazia chorar. Ora, conta o Padre António Vieira que “saiu da pia onde os outros meninos estranham tanto o rigor da água e quando a ama o recolheu nos braços para o acalentar do choro e lhe dar o peito, o prodigioso infante em vez de chorar e mamar, fitou os olhos em um Cristo crucificado e com o rosto alegre e os bracinhos abertos e estendidos, parecia que lhe dava as graças da graça que recebera. Assim esteve por largo espaço com admiração e pasmo dos circunstantes, sem o poderem divergir da vista firme e contemplação atenta do sagrado objecto.”.
Toda a história da vida de São Gonçalo é norteada pelo seu desmedido amor a Deus, que o impeliu a conhecer o lugar onde se fez Homem, a dedicar toda a sua vida aos mais pobres e necessitados e a terminar os seus dias em contemplação e oração numa ermida, junto ao rio Tâmega. A segunda história passa-se nesta fase final da sua vida:
Estando São Gonçalo na ermida que construiu, ouvia muitas vezes as tempestades que se faziam sentir e que originavam muitas mortes. Então, e porque tinha um coração santo, resolveu construir com as suas próprias mãos uma ponte que ligasse as duas margens do rio Tâmega. Diz o Padre António Vieira que “quanto maior é nos Santos o amor de Deus, tanto mais forte e mais solícito é o amor ao próximo”.
Reza a história que, apesar de ser tão antiga, a ponte ainda hoje existe, construída pelo Santo que assim pensou: “Porque eu não posso nada, eu sem Deus não poderei mover uma pedra: mas porque Deus pode tudo, eu com Deus, e Deus comigo bem poderemos fazer a ponte. E assim foi.”.
Também nós, com a confiança posta em Deus, renovamos em cada dia esta certeza, pela mão de Maria, desde o Santuário: “Nada sem ti, nada sem nós”!